Miguel Kaled
Aí está uma pergunta que não tem uma só resposta, pois cada um de nós tem uma realidade única.
Historiadores, jornalistas e nós mesmos temos a tendência a comparar situações similares em tempos cronológicos diferentes. Minha impressão é que estamos hoje e a cada dia, melhor preparados para enfrentar esta pandemia e suas consequências do que em situações socias similares ocorridas há algum tempo. Por exemplo: usar as redes sociais para manter contato com o outro minimiza a ansiedade e traz um ponto de equilíbrio. Ao invés de usarmos esses canais para nos desinformar, vamos tê-los como aliados.
Quanto ao isolamento, ele não é trágico, mas necessário. E não nos esqueçamos que muito mais grave que a doença pode ser o pânico gerado em torno dela.
Há monges que fazem votos de silêncio eterno; há ermitões que vivem em cavernas, muitos deles próximos de nós; monges em clausuras; há prisioneiros em solitárias; há doentes isolados em cabines de vidro em vários hospitais; há submarinistas e astronautas.
O que há em comum nestes indivíduos é a motivação: motivação de permanecerem vivos, de voltarem aos seus lares, motivações religiosas ou outras próprias a cada um. Cabe a nós escolhermos a nossa motivação para convivermos com esta semi quarentena tendo resiliência, serenidade e maturidade. Fácil escrever, nem tão fácil fazer acontecer.
E a solução para esta pandemia não é uma regra geral por vários motivos, a meu ver: as condições de cada região geográfica e demográfica são muito diferentes. Seus climas, o comportamento histórico-social das populações, condições econômicas e comportamento de seus líderes influenciam diretamente na propagação e na contenção da praga.
É uma solução muito simplista pensarmos e adotarmos o isolamento horizontal: paremos tudo, tranquem-se todos em casa e esperemos essa onda passar, comos se fosse uma chuva de verão.
“E se o desespero bater, finja que ele não existe”.
A sociedade é uma engrenagem muito complexa e interdependente. Para você comer o seu ‘pão com manteiga’ pela manhã alguém plantou o trigo, fez a farinha, assou esse pão com algum tipo de combustível, ensacou a encomenda e a expos num ambiente limpo para que você o comprasse. Quanta gente envolvida, indo de um lugar para outro. Imagine se todos ficassem em casa!
Por outro lado há de se sugerir limites. Aglomerações sabidamente facilitam a transmissão do virus. O meio termo, incluindo aqui nossos negócios, talvez seja o caminho a seguir, mesmo sabendo dos riscos que corremos. A vida é cheia de riscos.
Sugiro então tirarmos o que há de melhor desta oportunidade. Sim, oportunidade. Ouvi num filme Morgan Freeman dizer que quando pedimos coragem a Deus ele não nos dá a coragem e sim uma oportunidade de sermos corajosos. Assim vencemos o desafio com nossas próprias pernas.
Esta semi quarentena faz com que convivamos muito mais uns com os outros. Há assuntos adormecidos que vem à tona…há amigos e parentes redescobertos. Há quantos anos não cozinhamos juntos, todos os dias, café, almoço e jantar? E a limpeza da casa? É hora até de mais romantismo.
Mais importante: a religiosidade aflora, porque temos mais tempo para lembrar Dele…e pensar nos outros menos afortunados, para lembrarmos de que somos muito afortunados e sem direito a reclamar.
A realidade é que estamos enfrentando um monstro, mas estamos preparados para enfrentá-lo. Temos que acreditar nisso, temos que praticar esse enfrentamento. Às vezes a melhor arma é ficar em casa e não se desesperar.
E se o desespero bater, finja que ele não existe.